sexta-feira, 29 de julho de 2011

Censura da família Sarney ao Estadão completa dois anos neste domingo


Ricardo Gandour comenta os dois anos de censura do Estadão


No próximo domingo (31), o jornal O Estado de S. Paulo completará 730 dias de censura. Exatamente dois anos em que o periódico foi proibido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) de divulgar informações de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney, relacionadas à Operação Boi Barrica. Imbróglio iniciado em 29 de janeiro de 2010, e que culminou na proibição do jornal de divulgar qualquer informação sobre o caso desde o dia 31 de julho de 2009.

Apesar da intensa campanha do jornal em anunciar diariamente a decisão da justiça como ato de censura, em 18 de dezembro de 2010, Fernando Sarney desistiu da ação. Mas o Estadão não aceitou e manifestou oficialmente o pedido de prosseguimento da ação para que ela tenha seu mérito julgado. O jornal deixa claro que ainda espera a manifestação da Justiça.

O advogado de Fernando Sarney, Marcelo Leal, responde ao Portal IMPRENSA que não houve censura: "meu cliente não recorreu à Justiça para impedir a publicação de informações sobre a Operação Boi Barrica, para obter censura. Ele recorreu, pois o jornal estava cometendo um crime ao divulgar escutas telefônicas do inquérito, que devem ser mantidas sob sigilo, de acordo com a legislação brasileira".

Em entrevista exclusiva ao Portal IMPRENSA, o diretor de conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour, falou sobre os dois anos de censura e os motivos que levam o jornal a continuar pedindo respostas da Justiça.

Portal IMPRENSA - Como é completar dois anos de censura. Inédito isso não?

Ricardo Gandour - Olha Muitos se perguntam, é censura ou não é? E eu digo, é censura sim. Pois, o jornal está impedido de publicar informações sobre certa investigação, qualquer informação. E a postura do jornal não está sendo egoísta, mas simplesmente defende um interesse que é de toda a imprensa.

IMPRENSA - Por qual motivo o jornal não aceitou a desistência do Fernando Sarney?

Gandour - Quando o Fernando Sarney em dezembro, cinco meses depois do início do processo, entrou com desistência nós não aceitamos, pois entendemos que é dever da Justiça se pronunciar, e que acatando a desistência o tema ficaria no esquecimento. E o assunto é muito sério para cair no esquecimento.


IMPRENSA - O que te leva a pensar o motivo de o processo demorar tanto para ser decidido?

Gandour - Tenho impressão de que tem uma faceta política forte. Mas o jornal tomou todas as medidas que ele deveria tomar. Jamais desobedeceu a decisão de não publicar. Porque estamos em um estado de direito, e continuamos a contagem para mostrar o que está permanecendo em aberto.

IMPRENSA - O que os leitores acham do assunto? De todo o dia publicar uma nota a respeito?

Gandour - Nossos leitores estão aguardando como nós a decisão. É uma vigília, não tem manifestação de ânimo e nem de torcida. Nem contra o jornal, os leitores todos estão aguardando. Esse assunto é muito importante. Imagine o contrario que não saísse nada, cairia no esquecimento e sinalizaria que o jornal não se importou mais com isso.

IMPRENSA - Porque não deixar que outros veículos publiquem a matéria?
Gandour - Acho que não é o caso. É isso que o jornal quer discutir, quer que a decisão seja tomada. O caso não é mais do Estadão é da imprensa brasileira, a matéria em si já perdeu o efeito. Já passou tanto tempo, não é essa mais a questão, não é o caso de o jornal dar a matéria para alguém publicar. A questão é a resposta que a Justiça vai dar sobre o tema.

IMPRENSA - A queda da Lei de Imprensa criou um vácuo em relação ao direito de resposta. Deve existir uma regulamentação para o direito de resposta?

Gandour - Realmente o termino da lei de imprensa que no todo foi bom que buscava restringir e confirmar a atuação da imprensa. Mas por outro, lado ele deixou vácuos em termos de direito de resposta, indenização. Eu pessoalmente prefiro assim a voltar a lei anterior. Na pratica não está fazendo falta, não tem tido abusos nesses dois aspectos.


PortalImprensa

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