segunda-feira, 28 de maio de 2012

Sarney perde espaço no setor energético e Palácio ‘queima’ Lobão





Devagar e sem alarde, a presidente Dilma Rousseff está ‘expurgando’ o PMDB do setor energético. Depois de tirar o partido do comando da Eletrobrás e trocar o presidente e dois diretores da Eletronorte, indicados pela legenda, o aliado agora está sendo apeado da Petrobrás. O golpe final está programado para depois das eleições municipais, quando Dilma planeja acelerar a migração do ministro de Minas e Energia e senador Edison Lobão (PMDB-MA) de volta ao Congresso, para disputar a sucessão do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

Lobão até argumentou que preferia continuar no ministério, mas o Planalto prosseguiu em sua estratégia, patrocinando a filiação do secretário executivo Márcio Zimmermann ao PMDB. Como Zimmermann não tem militância política e já substituiu Lobão durante a campanha eleitoral de 2010, por determinação de Dilma, a cúpula do PMDB entende que a volta do ministro ao Congresso significará o expurgo completo da legenda do setor elétrico.

Desgostosos e preocupados com o enfraquecimento da sigla no Executivo, dirigentes peemedebistas avaliam que não vale a pena brigar por cargos agora, mas já falam em dar o troco à primeira crise que demandar o apoio dos aliados a medidas impopulares. O PMDB decidiu se calar com o objetivo de poupar energia para a guerra da sucessão da Câmara. De comandar as duas Casas do Legislativo o partido não abre mão. Líderes já falam em ‘ir às últimas consequências’ para manter o poder da legenda no Congresso.

Expoentes do grupo Sarney reconhecem o apreço pessoal de Dilma por Lobão, mas entendem que a presidente começou mal seu projeto de levá-lo ao comando do Senado. Embora sejam majoritários na bancada de senadores do PMDB, eles preveem problemas e não têm dúvida de que o Planalto lançou a ideia na hora e da forma errada.

‘O Palácio queimou o Lobão com esta operação desastrada’, resume um peemedebista experiente, para quem a filiação de Zimmermann tem a finalidade de justificar o discurso de que o PMDB continuará com o ministério.

Ainda assim, é o senador Sarney, e não o ministro, o mais atingido pelas mudanças em um setor que, desde o governo Itamar Franco, abriga técnicos por ele apadrinhados. É o caso de José Antonio Muniz, que Dilma tirou do comando da Eletrobrás e transferiu para a diretoria de Transmissão, um posto de pouca importância política para um partido que tinha a presidência e a diretoria financeira da holding.

Perda. Peemedebistas lembram que a Eletrobrás é a maior companhia do setor elétrico na América Latina. A holding controla o sistema de geração, transmissão e distribuição de energia em todo o País, com cinco distribuidoras, seis empresas de geração e transmissão, 164 usinas e participação societária em 19 companhias estaduais de energia.

Também se queixam de terem perdido a presidência de Furnas, onde Dilma colocou Flávio Decat, um técnico de sua preferência pessoal, e lembram que a influência do partido na Agência Nacional de Energia Elétrica também acabou.

Na Petrobrás, o PMDB só tem hoje o diretor internacional, Jorge Luiz Zelada, que teve seu cargo esvaziado e está demissionário. A única participação do ministro na troca da diretoria da estatal foi um comunicado da presidente. Ao avisar Lobão de que Planalto e Petrobrás estavam decididos a por fim à influência política na empresa, Dilma disse que a melhor pessoa para fazer as indicações técnicas era a presidente da Petrobrás, Graça Foster. Ao ministro foi dada a opção de veto, não exercida até porque ele nem conhecia a maioria dos nomes apresentados.


Do jornal O Estado de São Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário